16/07/2014

Teatro Arthur Azevdedo - São Luis - MA

Ainda na cidade de São Luis, o Teatro Arthur Azevedo merece destaque e ter um post aqui no blog exclusivo para ele. Aqui em São Paulo temos muitos teatros antigos e lindos, que eu inclusive conheço, mas esse teatro me impressionou pela parte interna! A suntuosidade e o acabamento são incríveis. Segue a história do mesmo:
Em pleno ciclo do algodão maranhense, no ano de 1815, dois comerciantes portugueses desejosos de assistirem espetáculos de arte dramática e música lírica de qualidade e em condições adequadas em São Luís, a exemplo do que assistiam em Lisboa, decidiram edificar um grande teatro do mesmo porte das casas de óperas da Europa e trazer de lá e do sul do Brasil as grandes companhias. Eram eles Eleutério Lopes da Silva Varela e Estevão Gonçalves Braga.
A planta original do que seria esta grande Casa de Espetáculos, previa uma fachada para a Rua da Paz e a principal para o Largo do Carmo. A igreja reagiu e, com o pretexto de ser anti-religiosa a construção de um teatro ao lado de uma igreja, afrontando seus valores, pediu o embargo da construção.



Com uma sentença favorável aos padres carmelitas, o Teatro começou a ser construído em 1816 com sua fachada principal voltada para a rua do sol, com todas as condições negativas que se conhece: o prédio ficou espremido entre outras construções, sendo as ruas da frente e da lateral, de alta circulação automotiva com os barulhos conseqüentes e perturbadores, além das dificuldades para estacionamento.
Este teatro não seria o primeiro e sim o quarto a ser construído na cidade de São Luís, entre 1780 e 1816. Todos de pequeno porte e sem os espaços e conforto adequados. E assim, em apenas um ano de construção, entre 1816 e 1817, dois empreendedores privados constroem um prédio de tamanha monumentalidade para a época. Isto há 198 anos e, até o presente momento, nenhum outro foi construído pelo poder público igual ou maior e a cidade não tinha nem um quinto da população atual.

Edificado em estilo arquitetônico neoclássico, constitui-se no único exemplar verdadeiro desse estilo em São Luís. No Brasil, o neoclássico foi difundido com a chegada da missão artística francesa, trazida por D.João VI em 1816. No Rio de Janeiro, a primeira edificação no estilo neoclássico só ocorreu em 1819.
Nascia assim o Teatro União, inaugurado em 1º de junho de 1817, dois anos após a inclusão do Brasil ao Reino Unido de Portugal e Algarves, fato que originou o nome do prédio. O projeto era grandioso. Na época, São Luis era a quarta maior cidade do Brasil e os 800 lugares do teatro representavam 5% da população local.
Em 1852, o Teatro União passaria a se chamar Teatro São Luiz e, em 1854, serviria de berço para Apolônia Pinto, filha de uma atriz portuguesa que entrou em trabalho de parto em pleno teatro. No camarim número 1, nascia uma das grandes atrizes do teatro brasileiro, que já aos doze anos encantava platéias com a peça "A Cigana de Paris". Este mesmo ano é marcado pelo primeiro baile de máscaras de São Luís, à época um evento de grande repercussão. Os restos mortais de Apolônia Pinto estão guardados no próprio Teatro, no piso térreo, em um nicho dá acesso à platéia. Lá, a atriz foi homenageada, ainda, com um busto em bronze e uma placa alusiva à sua brilhante trajetória cultural, localizada no próprio camarim nº 1.

O nome Teatro Arthur Azevedo, viria na década de 20 em homenagem a um importante teatrólogo maranhense. Desde então, o lugar enfrentou momentos de crise e chegou a funcionar como cinema, além de sofrer restaurações que acabaram por descaracterizar alguns de seus elementos. Na década de 60, o governo do estado pôs fim ao contrato com a empresa cinematográfica que o havia arrendado.
Hoje o teatro teve sua função original restaurada e funciona normalmente. Inclusive foi criado um anexo contemporâneo para fazer recepções e eventos. No último pavimento foi criada uma sala de ensaio e aulas de danças.
Fotos: Acervo Pessoal (link para ver todas AQUI)

09/07/2014

São Luis - MA

Uma das cidades históricas mais bonitas do país! Embora a cidade tenha cara de abandonada e o poder público não ajuda a situação a melhorar, a arquitetura histórica sobrevive com sorte ao abandono e resiste apenas porque faz parte do patrimônio da UNESCO!

Coloquei aqui um pouco da história sobre a cidade e a ilha onde a cidade está localizada, e algumas fotos. As demais fotos podem ser vistas no Flickr.

Capital do Estado, São Luís é a principal cidade do Maranhão, situada em pleno Golfão Maranhense, à entrada da Baía de São Marcos, formada pelos estuários do Rio Anil e Bacanga. Foi fundada em 08 de setembro de 1612 na Ilha de Upaon- Açu (Ilha Grande) assim denominada pelos indígenas, onde foi construído um forte chamado Saint Louis, por uma expedição francesa incumbida de estabelecer uma Colônia, além da linha equatorial cujos componentes foram Daniel de La Touche - Sr. De La Ravardière e Francois de Rasilly - Sr. De Aunelles e Rasilly.

Com a expulsão dos franceses em 1621, São Luís passou ao domínio dos portugueses, sendo então elevada à sede do chamado Estado do Maranhão. Em 1641, foi ocupada por Holandeses que até fevereiro de 1644 permaneceram por aqui.

Devido à sua localização favorável à atividade portuária, São Luís tornou-se, no período colonial, importante centro de exportação de algodão e cana- de- açúcar.

Grande centro polarizador do comércio maranhense, a Praia Grande foi nos séculos XVIII e XIX a sede das primeiras atividades econômicas de médio e grande porte do Estado, ali se instalando grandes firmas comerciais, que abasteciam São Luís e o interior do Maranhão. Era também, um dos maiores pontos de recepção de escravos para as fazendas de algodão ou para trabalharem em benefício da aristocracia rural que passou a habitar os grandes sobrados daquele espaço de opulência e riqueza.

No início da década de 60, com o surgimento da política do Governo Federal de interligar as capitais brasileiras através de rodovias, a estrutura comercial da Praia Grande declinou.


A Praia Grande faz parte do Centro Histórico da cidade de São Luís, onde as edificações tem características totalmente influenciadas pela arquitetura, portuguesa, sendo a maioria de três pavimentos, totalmente azulejados formando belos casarões, atualmente tombados pelo patrimônio histórico da União.

Bairro tipicamente de pescadores, o Desterro é um dos mais antigos da cidade. Nesse local, no início da colonização portuguesa, houve uma pequena ermida de frente para o mar dedicada a Nossa Senhora do Desterro. Foi o primeiro templo construído em São Luís, no século XVII.

Nesse bairro também está localizado o Convento das Mercês, onde funcionou o Corpo de Bombeiros e agora a Fundação da Memória Republicana.


Fotos: Acervo Pessoal (vocês podem ver todas as fotos que tirei em São Luis AQUI NO FLICKR)

Fonte: Visite São Luis e Turismo Maranhão.

02/07/2014

Exposição Obsessão Infinita de Yayoi Kusama

Estive na exposição Obsessão Infinita da artista Yayoi Kusama realizada no Instituto Tomie Ohtake em São Paulo, que oferece um panorama do trabalho da artista japonesa (uma das mais originais e inventivas do pós-guerra) através de aproximadamente 100 obras realizadas no período entre 1949 e 2012, que incluem pinturas, trabalhos em papel, esculturas, vídeos, apresentações de slides e instalações.

O caráter psicológico singular e pronunciado em seu trabalho sempre foi combinado com uma dose de reinvenção e inovação formal, o que lhe permite dividir sua visão única com um público mais amplo, através do espaço infinitamente espelhado e da repetição obsessiva de pontos que caracteriza sua obra.

Nos anos 50 ela se mudou para New York, onde entrou em contato com artistas como Andt Warhol, Donald Judd, Claes Oldenberg e Joseph Cornell, o que influenciou diretamente sua obra em termos de aparência e de tipos.

Em seus trabalhos mais recentes, a artista renovou o contato com seus instintos mais radicais em instalações imersivas e colaborativas – peças que fizeram dela, com justiça, a artista viva mais celebrada do Japão.


OBS: disponibilizei aqui também o folder que peguei por lá e as fotos (Flickr). 

DICA VALIOSA: como a artista ficou famosa pela exposição 'das bolinhas', é bom se precaver, pois há filas para entrar no Instituto (você fica mais ou menos uma meia hora nela) e, além disso, para visitar os ambientes com as instalações e as obras, também têm muitas filas (para que as pessoas não se atropelem lá dentro, já que alguns são escuros). Se estiver a fim de ver, vá com MUITA paciência (porque as pessoas furam fila) e, principalmente, mente aberta!

Instituto Tomie Ohtake
Av. Brigadeiro Faria Lima, 201, entrada pela Rua Coropés - Pinheiros
Tel.: 11-2245-1900
Horário de atendimento: das 11h às 20h.
Entrada Gratuita - De 22/05 à 27/07.
Curadoria: Philip Larratt-Smith e Frances Morris

27/06/2014

Exposição Casamata

Estive há mais ou menos um mês na Exposição Casamata que está acontecendo na Pinacoteca do Estado (clique aqui para visitar o site) do artista Laerte Ramos. São 102 peças em formato de Casamatas, feitas em cerâmica e 44 peças Columbiformes de dois tamanhos diferentes que reproduzem pombos. 

Casamata é uma construção baixa, um abrigo normalmente abobadado e fortificado, às vezes blindado, que pode ser parcialmente subterrâneo e que tem como finalidades instalar armas, estocar munição ou alojar pessoas. Na instalação apresentada na Pinacoteca, Laerte Ramos faz um paralelo dessas pequenas construções com as habitações que os pássaros popularmente conhecidos como João-de-barro. O artista cria uma série de modelos de moradas a partir da junção de formas geométricas simples como esferas e cubos. Tais formas se multiplicam, encaixam-se, combinam-se, com repetições e agrupamentos. Sustentadas por cabos de aço, praticamente soltas e visíveis de todos os ângulos, muitas trazem em seus vãos ou em superfícies maiores areia e plantas artificiais.

A presença de mais de 100 casamatas no espaço Central do museu possibilita que as esculturas interajam com o espaço banhado de luz, no qual as paredes ainda exibem a alvenaria de tijolos de barro que explicitam a estrutura do edifício – historicamente inacabado – e cujo piso, de mármore branco, cor também aplicada em todas as Casamatas, possibilita ampliar o jogo de cheios e vazios, o peso da matéria e a leveza do suporte.Além das casamatas, nos dois pátios laterais ao Octógono foram instalados os Columbiformes, que acomodam-se em diversos pontos, chamando novamente a atenção para os vestígios de uma construção nunca finalizada.

Este final de semana é o último para ver a exposição, aproveitem para visitar, é bem legal para arquitetos que buscam inspiração e para pessoas que só querem ver a arte com um olhar diferente.




O restante das fotos está disponível aqui: Flickr
Curadoria de Ana Paula Nascimento, para o Projeto Octógono de Arte Contemporânea na Pinacoteca.

Fonte: Pinacoteca  /  Fotos: Acervo Pessoal

06/03/2014

Alcântara - MA

Bom, falando um pouco sobre viagens, há um pouco mais de um ano, fui visitar algumas cidades do Maranhão de férias. Como eu já contei aqui, gosto muito de arquitetura histórica, patrimônio, edifícios antigos e cidades que colaboraram para a formação do Brasil.

Para começar a falar um pouco sobre este estado lindo, vou falar sobre a cidade de Alcântara. Essa pequena cidade localizada a 2º (dois graus) da linha do Equador, fica na parte do continente que é próxima a ilha de São Luis, capital do estado. É possível chegar lá pegando um catamarã que sai do Porto da Praia Grande em São Luis e a viagem dura mais ou menos uma hora em mar aberto (evitem dias chuvosos porque o mar é revolto).

E tudo gira em torno da maré no Maranhão... A compensação de água das marés acontece de 6 em 6 horas, e o mar desce 8 metros quando a maré baixa, esses metros são consideráveis pois o mar praticamente some da cidade e aparecem alguns quilômetros de praias e mangues. O porquê de tudo isso é que todas as viagens de barco devem ser programadas de acordo com a maré alta... Se não, você corre o risco de ficar na cidade e voltar no dia seguinte ou, se já estiver no meio do caminho, descer até onde o barco conseguir chegar e depois dar uma boa caminhada, pela faixa de areia que apareceu, até a orla (foi o que aconteceu e foi uma aventura e tanto rsrsrs).

Mas falando da cidade, existem muitas ladeiras e casarios coloniais com todos os tipos de azulejos portugueses. Visitei as ruínas da Igreja da Matriz de São Matias, a antiga cadeia e o pelourinho original de pedras e com tronco. As coisas por lá parecem que pararam no tempo! As ruas e calçadas ainda são de pedra, boa parte é original. Passei rapidamente pela Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que data de 1803 e foi construída pelos escravos que não podiam frequentar as outras igrejas.

Também passei pela Igreja do Carmo, essa com mais tempo. Ela foi construída pelos padres carmelitas calçados e data de 1665. 
É impressionante como todas as ruínas da cidade são de obras inacabadas. Alcântara era a cidade mais rica da capitania hereditária do Grão Pará, o que despertou o interesse do imperador D. Pedro II na época, isso fez com que a cidade crescesse ainda mais, mas ele nunca foi lá, e com a abolição da escravatura e ascensão de São Luis, a cidade foi abandonada e parece uma cidade fantasma.

Ainda existem comunidades originais descendentes de quilombos por lá! É o máximo poder ver de perto uma parte da história que parecia tão longe no tempo...

Para terminar, lá também existe o Museu Aeroespacial de Alcântara, que faz parte do Centro de Lançamentos de Alcântara. Houve um acidente lá no ano de 2003 e desde então o museu está fechado para visitação, inclusive as atividades do Centro de Lançamentos estão paralisadas. Mas por causa da maré, nem teríamos tempo de passar por lá.

Vale dar uma passada por lá, mesmo com o enjoo que dá o balanço do catamarã. Existem também visitas às praias e ilhas próximas de lá, mas isso seria mais um dia de passeio.


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07/02/2014

Existe vida após a faculdade...

Olá pessoal...
Depois de mais de um ano e meio sem escrever e dar sinal de vida aqui no blog, ressurgi das cinzas e voltei rsrs... Nesse tempo aconteceram muitas coisas importantes na minha vida que me tomaram um tempo precioso de escrever e comentar sobre a arquitetura e o design de interiores. Acho que citei aqui que tive uma filha e que a minha vida havia mudado radicalmente.
Além disso, me formei, finalmente, em Arquitetura e Urbanismo, e foi um sonho realizado. Na faculdade, para se formar, é obrigatório realizar um projeto de arquitetura e urbanismo, que você pode escolher local e tema, para desenvolver ao longo do último ano. E o meu trabalho me deu muito orgulho, pois tirei a nota máxima e ele ainda foi um dos indicados para ir para o concurso Ópera Prima (link aqui) e poderá representar a faculdade entre outros trabalhos do Brasil inteiro.
Bom, tenho muitas coisas legais para postar aqui, mas decidi que, para começar o ano com o pé direito, vou postar justamente o meu trabalho de conclusão da faculdade.

Antiga fábrica da Cervejaria Antárctica Paulista

O projeto desenvolvido é sobre o restauro da antiga fábrica da Antárctica, localizada no bairro da Moóca, e a requalificação do entorno imediato da fábrica, que propõe a implantação de um centro de cultura e lazer para a região.

É um projeto conceitual, mas que foi desenvolvido como se fosse real, considerando todas as legislações de prefeitura, normas técnicas, normas de segurança e de acessibilidade. Aborda projetualmente algumas questões importantes e que precisam ser trabalhadas na cidade de São Paulo: o replanejamento urbano, o tratamento digno às antigas edificações que fazem parte da história paulistana e o oferecimento à população de equipamentos urbanos públicos ou semi-públicos de qualidade, que possam melhorar a qualidade de vida e melhorar áreas abandonadas ou com grandes interferências, como a estrada de ferro, da cidade.
A proposta de criar um complexo de cultura e lazer no bairro da Móoca foi motivada pelo fato dessa região estar em um processo de revitalização, deixando de ser essencialmente industrial e passando a ser um bairro de uso misto. Além disso, existem exemplares arquitetônicos de grande valor histórico da região, então a proposta também integra o restauro da antiga fábrica da Cia. Antarctica Paulista com as suas edificações imponentes e que pertencem à população do bairro.
O terreno onde está localizado o projeto foi dividido em três setores principais e ofereceria à população áreas de esportes, cultura, educação, lazer, entretenimento e serviços. Além disso, a proposta excluiu todas as possibilidades de acesso de automóveis, estimulando assim o uso de transportes públicos ou de bicicletas.

O projeto do Complexo de Cultura e Lazer da Móoca é mais do que um projeto de urbanismo, restauro e revitalização, é um projeto modelo de melhoria da qualidade de vida da população, de preservação da memória da cidade de São Paulo e de transposição de barreiras físicas e culturais.